La Casa de Papel - Série espanhola da Netflix é uma montanha russa. Em todos os sentidos

Há uma sensação agradável quando se termina de ver o primeiro episódio de La Casa de Papel. É um sentimento de contentamento quando a gente se dá conta de que fora do eixo hollywoodiano existe uma excelente safra de criadores imaginativos que, tendo acesso aos recursos necessários, podem realizar obras interessantes, inteligentes e intrigantes. É que La Casa de Papel não vem de nenhum grande estúdio norte-americano de onde normalmente vem a maioria das grandes séries. O programa vem da Espanha, que vem se provando a cada ano um celeiro rico em criatividade não só no cinema - que já nos deu Almodóvar, Alejandro Amenábar e J. A. Bayona -, mas também na tevê.
Criada por Alex Pina para o canal espanhol Antena 3, a série teve seus direitos de exibição internacionais adquiridos pela gigante Netflix, e é graças a existência do serviço de streaming que o mundo inteiro pode desfrutar deste incrível produto de entretenimento.
No Brasil, a série estreou sem nenhuma mega campanha de marketing da Netflix, enfiada ali no meio de várias outras estreias, mas foi conquistando aos poucos o público e a crítica. La Casa de Papel já é um dos maiores sucessos do serviço de streaming, aparecendo constantemente nas abas "Em alta" e "Populares na Netflix", o que demonstra o alto nível de comprometimento do espectador com o programa. Pululando de comentários e recomendações apaixonadas em todas as redes sociais, La Casa de Papel tornou-se um verdadeiro fenômeno televisivo, algo notável, considerando que não vem dos Estados Unidos.
OK, já sabemos que é um fenômeno, que é campeã de audiência no Brasil e que o mundo todo está vendo. Mas ainda resta a pergunta: é boa?
E a resposta: Sim. La Casa de Papel é uma ótima história de assalto, que pega elementos variados de todas as outras histórias de assalto que nós já vimos e junta tudo numa salada que não parece deslocada, uma mistura competente que consegue prender o espectador até o fim.
Apesar disso, a série ainda peca em vários momentos, com defeitos que podem comprometer a experiência um pouco, mas que não arruínam o fato de que vale a pena acompanhar.
É a história de oito assaltantes que são reunidos pelo misterioso homem que se chama apenas de "Professor", o arquiteto do maior assalto da história. Trata-se de um golpe que pode render bilhões de
euros: o assalto à Casa da Moeda da Espanha. Cada membro da gangue é escolhido a dedo por suas habilidades próprias, como capacidade de hackear sistemas de segurança, experiência com soldagem, etc. É claro que, com tanta gente diferente junta, a coisa não vai ser tranquila. Nem poderia, ou não teríamos os conflitos capazes de levar uma trama para a frente. Um dos membros da gangue é Tóquio, uma assaltante que, depois de ter seu namorado morto durante um roubo fracassado, é recrutada pelo Professor. É ela quem narra a história toda, e esse é um dos pontos mais irritantes da série.
A narração de Tóquio é cansativa, principalmente quando ela verbaliza quase sempre o que está sendo mostrado na tela. Imagine que alguém está pegando um bisturi e colocando no bolso e a narração diz algo como "Ele conseguiu pegar o bisturi". É CLARO QUE ELE CONSEGUIU, É O QUE A CENA ESTÁ MOSTRANDO, NÃO PRECISA VOCÊ FALAR NADA! Desculpa, depois dessa explosão de raiva, voltamos à nossa programação normal.
Há também outros elementos estranhos à trama, coisas que parecem ter sido colocadas ali só para encher linguiça, são aquelas subtramas fill-in, que não fazem a história andar, mas que servem para que o episódio tenha seus quarenta e poucos minutos. E aí dá-lhe DRs que não deviam estar ali entre personagens que em nenhum momento tinham sequer um relacionamento, personagens conversando entre si explicando coisas que já tinham sido explicadas, coisas assim.
Ainda assim, as falhas estruturais não prejudicam a experiência de ver La Casa de Papel. É uma série enxuta e vibrante, em que cada episódio termina com um gancho que impulsiona você a querer ver o próximo capítulo. Na maioria das vezes, os ganchos fazem sentido, e esse é um ponto tremendamente positivo. 
Outro ponto negativo é que a Netflix não disponibilizou a temporada completa. Só há 13 episódios disponíveis no serviço, que deve acrescentar o resto da primeira temporada em abril. Até lá, a gente vai tentando dosar cada episódio assistido, esticando para não chegar logo até o fim e não ficar carente dessa história fascinante que, apesar dos defeitos, é uma brilhante forma de mostrar ao mundo que há TV de qualidade fora dos Estados Unidos.

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