Clássicos Modernos #6: Touro Indomável (1980)
Em 1980, a onda otimista de Rocky, Um Lutador ainda não havia passado. Na verdade, o filme com Sylvester Stallone inaugurara uma série de filmes feitos para deixar pessoas alegres que dominaria a década de 80 quase que inteiramente. Mas eis que Martin Scorsese aparece com Touro Indomável (Raging Bull, EUA, 1980), um filme sobre um boxeador descontrolado, chauvinista, desprezível e digno de nada além do que pena. Alguns poderiam até achar que Scorsese exagerou em seu retrato de Jake LaMotta, mas de fato, o cineasta até pegou leve, segundo alguns que viveram com o lutador em seu tempo (anos 40 e 50), e o próprio LaMotta em pessoa.
Touro Indomável foi um fracasso em seu lançamento, mesmo sendo elogiado por quase todos os críticos. Não é um filme agradável, com certeza. O protagonista não ajuda. Mas a atuação de Robert De Niro como um dos personagens mais detestáveis da história do cinema é não menos que magistral. A maneira como o lendário ator incorpora a persona lamentável de Jake LaMotta chega a assustar. Saber que, durante as filmagens, De Niro precisou ganhar 20 quilos para viver o personagem em sua fase mais decadente, nos ajuda ainda mais a ficarmos impressionados. O boxeador em sua fase vigorosa, enfrentando seus oponentes nos ringues com uma altíssima velocidade nos golpes, é mais um detalhe que contribui para a construção de um dos papéis mais desafiadores que qualquer ator poderia ter no cinema.
As cenas de luta são violentas, com socos sendo desferidos sem misericórdia, sangue jorrando incessantemente, e closes nos rostos dos lutadores mostrando toda a gravidade dos ferimentos depois de cada round lutado. Ainda durante essas cenas, Scorsese mostra todo o desprezo que LaMotta tinha pelas mulheres, quando vemos bolos de sangue caírem em moças que assistiam às lutas e mulheres sendo atropeladas pela multidão durante uma confusão generalizada.
O filme é cruel para quem espera um final redentor, com LaMotta escapando da lama e se arrependendo de tudo o que fez. Não há arrependimento (ao menos não expressado verbalmente); o que se vê é, em um minuto o lutador campeão dos pesos-médios, e logo depois, na temporalidade veloz do cinema, o mesmo campeão tentando se livrar de uma acusação de aliciamento de menores em uma boate de sua propriedade.
Se Rocky é Hollywood dizendo que todos podem ser vitoriosos, Touro Indomável, em um estupendo preto e branco filmado por Michael Chapman, é Scorsese afirmando que a vida é dura e que, às vezes, a gente pode fracassar. Um filme que não pode deixar de ser visto.

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