Gravidade | O cinema em seu papel de deslumbrar

O cinema de Alfonso Cuarón é aquele do deslumbramento, do desbunde, capaz de suscitar os mais diversos suspiros, "aahs" e "uuhs", sem jamais permitir que o espectador respire aliviado antes dos créditos finais. Com Gravidade (Gravity, EUA, 2013), o cineasta mexicano alcança seu auge artístico. Ao colocar dois astros de Hollywood à deriva no espaço, Cuarón não apenas eleva o nível dos filmes espaciais, como também estabelece um padrão para o cinema como um todo. Depois de Gravidade, o público não se conformará com menos do que a exuberância em qualquer outro filme.
A trama é bem simples e foi escrita em parceria com o filho de Cuarón, Jonas. Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) são dois astronautas realizando reparos externos em uma espaçonave, até serem atingidos por destroços de satélites, cuja órbita está descontrolada. A nave deles é completamente destruída e toda a tripulação está morta. Sendo os únicos sobreviventes, eles tentarão chegar até a ISS (sigla inglesa para Estação Espacial Internacional) numa tentativa desesperada de voltar à Terra.
Com uma cena de abertura toda em plano-sequência (cena gigantesca que não conta com nenhum corte), Cuarón leva às últimas consequências sua obsessão com esse tipo de linguagem - ele já havia usado dois planos-sequência em Os Filhos da Esperança, de 2006,  mas em Gravidade a dificuldade da execução está no fato de ser uma cena passada em pleno espaço. Imaginar a equipe de efeitos especiais trabalhando na cena já me deixa com os neurônios alucinados.
Outra escolha acertada do diretor foi o realismo com que ele conta sua história: uma vez que o som não se propaga no vácuo, não há nenhum som externo, como o de explosões ou colisões. Os únicos sons que se ouvem são a comunicação via rádio e a maravilhosa trilha sonora de Steven  Price. A fotografia de Emanuel Lubezki contribui para a criação de um clima espacial claustrofóbico como só se viu em 2001 - Uma Odisseia no Espaço e Alien - O Oitavo Passageiro.
Espetáculo técnico e também artístico: a atuação de Sandra Bullock é extraordinária. A atriz atua sozinha quase o tempo todo, e todo o desespero e despertar para a luta pela sobrevivência estão claros nos olhos dela, tamanha sua entrega ao papel.
Gravidade é uma proeza rara. Um filme fruto da entrega de uma equipe comprometida, desde o princípio, com a qualidade. Uma obra-prima sem precedentes no cinema do século 21.

Gravidade (2013) on IMDb

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