Argo - A história de um filme falso é cinema de verdade

Ator mediano que fez escolhas, no mínimo, duvidosas, Ben Affleck tornou-se um cineasta que, a cada filme, mostra-se mais conhecedor de seu ofício. É verdade que na primeira vez em que apareceu para o público, eles estava no palco do Kodak Theater recebendo seu Oscar pelo roteiro original de Gênio Indomável, ao lado do então futuro astro Matt Damon. Este simples fato não pode ser ignorado, ao pensarmos na capacidade criativa do cara que teve a infelicidade de estragar a franquia Demolidor, naquele filme horrendo do qual nem gosto de lembrar. Sem falar naquele tal "filme" que ele fez com Jennifer Lopez, Contato de Risco, tão ruim que consegue ter nota 2,4 no IMDB. Ugh.
Mas Affleck conseguiu se redimir. Depois de Medo da Verdade (2007) e Atração Perigosa (2010), sempre bem recebidos por crítica e público, o ator-diretor recuperou a confiança de um mercado impiedoso e conseguiu se manter no topo.
Em seu terceiro filme, Argo (EUA, 2012), Affleck desfila sua habilidade em criar cenas marcantes e carregadas de suspense, sem jamais se entregar a soluções fáceis. Ajuda também o fato de ter uma história daquelas que, se não fossem reais, ninguém acreditaria. Em 1979, em meio a uma revolução que depôs o Xá e restabeleceu o Aiatolá Khomeini ao poder no Irã, milhares de pessoas invadiram a embaixada americana no país e tomaram vários diplomatas como reféns, em uma situação que duraria 444 dias. Antes, porém, de acontecer a invasão, seis americanos conseguiram fugir do prédio da embaixada e se refugiar na sede diplomática do Canadá. Sem poderem sair, sob o risco de serem presos e executados como espiões, eles estavam em uma situação aparentemente sem solução visível. Nos EUA, o agente da CIA Tony Mendez (Ben Affleck) tem uma ideia bizarra para tentar resgatar os seis americanos da embaixada do Canadá: ele entraria no Irã como um produtor de cinema canadense à procura de locações para seu filme de ficção científica, e tiraria seus compatriotas do país como se fossem membros da equipe de produção. Para tornar a história a mais crível possível, era preciso dar início a um processo de filmagem de verdade, com um roteiro e uma empresa responsável. Assim foi. Usando o auxílio de dois produtores de Hollywood, Lester Siegel (Alan Arkin, indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante) e John Chambers (John Goodman), Mendez fez toda a Meca do cinema acreditar que "Argo", um roteiro de ficção científica à la Star Wars que circulava em Hollywood há algum tempo, finalmente veria a luz do dia. O disfarce perfeito para ludibriar o exército iraniano e resgatar os seis americanos sem um único tiro disparado.
Os melhores diálogos do filme pertencem ao personagem de Alan Arkin, que funciona como o arquétipo do cara experiente de Hollywood que conhece todos os caminhos para criar um filme de mentira em uma cidade onde todos mentem para viver. A metalinguagem, entretanto, não é o único ponto forte de Argo. Affleck consegue criar uma ambientação fiel à época retratada, e as conquistas referentes à semelhança do elenco com as pessoas reais representadas são surpreendentes.
Argo foi indicado a 7 Oscar: Filme, Edição, Edição de Som, Mixagem de Som, Ator Coadjuvante, Trilha Sonora Original e Roteiro Adaptado e já está sendo lançado em DVD no Brasil.
Nada mais admirável do que ver um artista com uma capacidade tão grande de se reinventar, e Argo é a terceira evidência que Ben Affleck apresenta ao mundo de ser um artista de verdade, um cineasta de verdade, que pega a história de um filme falso e a transforma em cinema de verdade.

Argo (2012) on IMDb

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