Moonrise Kingdom, o novo filme de Wes Anderson

A primeira impressão que se tem de qualquer filme de Wes Anderson é a de estranheza. Não uma estranheza desconfortável, incômoda, antes uma sensação de que algo original e belo está para ser visto. E tal sentimento surge logo nos créditos iniciais. É logo no começo que nos deparamos com a família supostamente perfeita de Suzy (a estreante Kara Hayward), vivendo em sua casa limpa, com seus três irmãos mais novos ouvindo discos enquanto seu pai (Bill Murray) arruma a mesa e sua mãe (Frances McDormand) prepara o jantar. Suzy, entretanto, encontra-se no quarto no último andar da casa, olhando com seus binóculos para longe de casa; seria uma espécie de tentativa - ou plano - de fuga?
Moonrise Kingdom (EUA, 2012), sétimo filme de Wes Anderson - o sexto com Bill Murray no elenco - é exatamente sobre uma fuga. Trata-se de um pequeno ato de rebeldia perpetrado por Suzy e seu primeiro amor, o escoteiro Sam (o também estreante Jared Gilman), que logo depois de se conhecerem passam a trocar cartas e confidenciam um ao outro suas angústias e problemas; alguns bastante comuns no começo da adolescência, outros, nem tanto: Sam é órfão e vive em uma família adotiva provisória, enquanto Suzy sofre com a incompreensão e o distanciamento dos pais. Ambos têm 12 anos e resolvem fugir. Não podem ir para muito longe, pois vivem em uma pequena ilha, mas conseguem passar algum tempo juntos antes de serem encontrados. É neste período que descobrem o amor.
A crítica tem tratado de Moonrise Kingdom como um filme sobre "a perda da inocência", e de fato assim é. Afinal de contas, a história se passa em 1965 e o filme pode ser visto como um retrato dos Estados Unidos antes de toda a revolução pela qual o país passou em 1968. É fácil relacionar a descoberta do amor pelos dois jovens protagonistas com o fim da ingenuidade americana. Mas muito antes de ser uma analogia que abrange a história de um país, o filme de Wes Anderson parece carregado de nostalgia, com experiências que o próprio diretor vivenciou em sua última infância, o que traz uma empatia muito bem vinda com o público.
Cineasta coerente com seu estilo narrativo, Anderson não tem problema algum em se manter fiel à sua linguagem visual; e nós também não. Cada cenário parece milimetricamente desenhado à mão, cada tomada parece planejada nos mínimos detalhes e até a letra dos créditos iniciais e finais remete a uma nostalgia impossível de não ser sentida. Além disso, o diretor faz questão de se cercar do melhor elenco possível: Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Jason Schwartzman e Bob Balaban têm atuações brilhantes em seus papéis coadjuvantes, com destaque para Willis. O ator de filmes de ação mostra uma habilidade notável de se desfazer de sua persona de "cara durão", necessária para seus blockbusters, e assumir uma fragilidade tocante, característica de seu Capitão Sharp, o único policial da ilha onde toda a trama se passa.
Moonrise Kingdom é delicado, envolvente, engraçado em alguns momentos e comovente. Tudo o que se espera de um filme de Wes Anderson.
Moonrise Kingdom (2012) on IMDb

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