'J. Edgar': DiCaprio, mais uma vez, se superando

Se ainda havia alguma dúvida, não há mais como existir. Leonardo DiCaprio é um atorzaço, daqueles capazes de atuar em qualquer papel, desde os mais simples e despretensiosos até aqueles que exigem uma preparação e uma transformação radicais. Em J. Edgar (EUA, 2011), DiCaprio acaba com qualquer ceticismo que porventura ainda houvesse em relação ao seu talento. Desde seu papel em O Despertar de um Homem, de 1993, ele se mantém em constante crescimento, no caminho para se tornar um dos maiores atores de sua geração. E dos mais bem sucedidos. Titanic foi o empurrão que ele precisava para que seu nome ficasse conhecido (aliás, cultuado obsessivamente) entre o grande público. Mas já em Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (1993), sua desenvoltura em um personagem complexo chamou a atenção da crítica - o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, como ator coadjuvante.
Depois da megaprodução sobre o navio que "nem Deus afundava", seu nome passou a ser cotado para as mais diversas possibilidades, mas DiCaprio continuou se modificando a cada novo papel. Dificilmente ele repete um tipo de personagem. Basta lembrar de suas participações em A Praia, O Aviador, Gangues de Nova York, Os Infiltrados e Prenda-me se for capaz.
Mas vamos voltar a falar de J. Edgar, primeiro filme do astro com um dos grandes cineastas vivos, Clint Eastwood. Trata-se da história de J. Edgar Hoover, o homem que definiu a história norte-americana do século XX, que foi diretor do FBI desde sua fundação, por 48 anos - função que só deixou ao morrer. A biografia de Hoover desperta muita curiosidade. Afinal de contas, o homem foi o responsável por modernizar a própria ciência criminal, com a defesa do uso das técnicas de investigação utilizadas hoje. Se procurar impressões digitais em cenas de crime é coisa habitual em qualquer parte do mundo, na década de 1920 isso parecia história de ficção científica, ideia de loucos. A atuação de Hoover frente ao FBI transformou o modo de combater o crime, e definiu um século marcado por paranoias referentes aos comunistas, à guerra e ao perigo de um holocausto nuclear. 
O diretor, Clint Eastwood, não poupou seu biografado. O roteiro de Dustin Lance Black (roteirista de Milk - A Voz da Igualdade) é mordaz em sua abordagem de J. Edgar, mostrando-o como racista, intolerante e com toques fortes de xenofobia - nada que não esperamos de um homem branco americano. Se por vezes o retrato de Hoover feito por Eastwood parece um tanto complacente, isso se deve a uma espécie de compaixão expressa no filme. J. Edgar também mostra seu personagem-título como um homossexual que nunca assumiu sua condição, visto que tal atitude não seria bem vista. Não na persona que o próprio Hoover construiu para si. É a angústia por nunca se mostrar como realmente é que marca a atuação de DiCaprio, que faz um homem de aparência forte, mas com uma fragilidade conhecida apenas pelas pessoas mais próximas e íntimas de si: sua mãe (lindamente vivida por Judi Dench) e seu colega/amante, Clyde Tolson (Armie Hammer, de A Rede Social).
Não há como não destacar também o trabalho magnífico feito na maquiagem, que envelheceu os atores com muita competência, sem resvalar no ridículo (coisa comum no cinema). 
Se ainda não foi dessa vez que DiCaprio levou seu Oscar para casa - ele nem mesmo foi indicado - ao menos o ator pode dormir tranquilo, sabendo que sua carreira brilhante ainda inclui um personagem desafiador como Hoover, brilhantemente retratado por Clint Eastwood. Dá para querer mais?
J. Edgar (2011) on IMDb

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