Clássicos Modernos #1: Antes da Chuva
Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro e premiado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 1994, Antes da Chuva (Before the Rain, Macedônia/França/Reino Unido) é desses filmes que martelam na memória muito tempo depois de encerrada a projeção.
Dividido em três partes que acabam se interligando em certo momento, a obra do diretor macedônio Milcho Manchevski tem início mostrando Kiril, um monge católico ortodoxo que vive em um vilarejo na Macedônia. O rapaz vive em um voto de silêncio há dois anos, e seus dias são cheios de rezas, missas e trabalho na horta do monastério. Até o dia em que uma misteriosa menina albanesa entra sorrateiramente em seu quarto; ela está sendo procurada por matar um camponês cristão. Sem saber como agir, Kiril abriga a moça e sua ação pode ter consequências trágicas. Este acontecimento inicial terá seu desenrolar mostrado no decorrer da história, sendo conectado a um fotógrafo premiado vivendo em Londres e sua amante, juntamente com uma família de camponeses macedônios.
A própria estrutura narrativa do filme traduz a filosofia expressa em todo o tempo durante a trama: "O tempo nunca morre. O ciclo nunca se completa." Isso porque o tema do tempo é crucial para a compreensão de Antes da Chuva. Aparentemente linear, o roteiro apresenta uma reviravolta que responde a muitas perguntas - e faz outras surgirem.
Muitas questões de alta relevância são tratadas profundamente pelo roteiro, sendo a principal a questão da identidade: nacional, religiosa e de gênero. Manchevski não faz concessões para mostrar que a guerra está em toda parte e não se importa com tradições e costumes. Na verdade, a guerra muda tudo.
Em determinado momento, Alexsander, o fotógrafo macedônio radicado em Londres pergunta a um médico do vilarejo porque haveria guerra naquele local tão tranquilo. O diálogo segue assim:
"Alexsander: Aqui não há motivo para lutar.
Médico: Encontrarão um. A guerra é contagiosa."
Com um conjunto de elementos técnicos (fotografia, trilha sonora, direção de arte) em rara e bem-vinda harmonia, o filme de Milcho Manchevski deve ser apreciado como se degusta um bom vinho.
Assim é Antes da Chuva. Violento, lírico, filosófico, contemporâneo, relevante. Tantos são os temas importantes que uma segunda e ainda uma terceira sessão fazem-se necessárias. Há muito o que se ver e muito o que se sentir. Exatamente o que torna um simples filme em um clássico moderno.

AH, NUNCA VI ESTE...VOU VER!
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